Um universo próprio construído apenas a partir de timbres de guitarras é a marca do trabalho do músico paraense Pio Lobato, 33. Seus experimentos têm como pilar a força primal dos loops: a repetição é matriz de texturas criadas com camadas sobre camadas sonoras, unicamente com o uso do instrumento elétrico.
Sotaque brasileiro para a guitarra
O trabalho de Pio Lobato sempre buscou novas fronteiras, sotaques e experimentações voltados exclusivamente para a execução da guitarra elétrica. Ainda na década de 90, o músico de Belém já havia vasculhado a influência do choro na técnica original de guitarristas da região como Aldo Sena e Mestre Vieira de Barcarena, o maior difusor do gênero denominado guitarrada. Músico formado pela Universidade Federal do Pará, a partir de 1997 o guitarrista passou a integrar o grupo Cravo Carbono, um dos mais respeitados trabalhos de flerte entre o pop e os ritmos brasileiros estabelecidos na região. Também em busca paralela por um caminho mais próprio para suas composições instrumentais, Pio Lobato muniu-se de elementos que se tornariam patentes na sua música: colagens de bases pré-gravadas e manipuladas em computadores caseiros e muitos loops, construídos com a ajuda do echoplex – um original aparelho de delay eletrônico inventado por Mathias Grob, suico radicado na Bahia, que permite a um músico acompanhar a si mesmo em sessões ao vivo. O resultado, que pouco tem a ver com as timbragens e ritmos mais comuns à música eletrônica, pode ser conferido em Café, o primeiro disco solo de Pio Lobato. Recentemente, o compositor ainda foi incluído como uma das boas novidades da música de Belém na trilha sonora do novo longa-metragem de Cacá Diegues – Deus é Brasileiro (2003). A faixa que compõe o filme é Recado pra Lucio Maia, a mesma composição instrumental que ganhou destaque em coletânea nacional editada pelo projeto Itaú Cultural Música – Rumos e Vertentes, lançada em 2001.
O trabalho do músico ao lado do grupo Cravo Carbono também já havia sido mapeado em 2000 pelo documentário multimídia Música do Brasil, do antropólogo Hermano Vianna, bem como pela versão brasileira do Strictly Mundial, mostra do Fórum Europeu de Festivais realizada em 2001, em Salvador, paralelamente à programação do III Mercado Cultural Latino-Americano.
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