Um baile à moda (quase) antiga
É difícil pôr a música de Arnaldo Antunes numa prateleira de identificação. O ex-Titã, poeta, escritor e compositor já transitou pela MPB, rock, concretismo e pop. Já teve suas músicas entoadas por multidões, ao mesmo tempo que ouvidas por um pequeno público seleto. Arnaldo é conceitual, e a ideia agora é atingir a raiz da música pop brasileira. Buscando referências nos anos 60, na Jovem Guarda e na música dita -brega-, o músico assumiu um -iê iê iê- pra todo mundo cantar junto, e mostrará isso no show que apresentará sábado, no Espaço Devassa, em Pirangi, às 23h. A noitada terá ainda Salada Sonora e Alex Silva.
Arnaldo Antunes reuniu amigos e músicos em um dos mais interessantes projetos musicais de 2010: um show gravado em sua casa
Arnaldo Antunes reuniu amigos e músicos em um dos mais interessantes projetos musicais de 2010: um show gravado em sua casa
A apresentação de Arnaldo Antunes será baseada no CD e DVD Ao vivo lá em casa , lançados no ano passado (com o selo Natura Musical). O disco foi gravado (sob direção de Andrucha Waddington) na residência do artista na comemoração de seus 50 anos, tendo o álbum Iê Iê Iê como base. É uma seleção caprichada de composições próprias e versões para artistas -lado B- da música nacional. Como se estivesse numa festa-baile animada (porém irônica), Antunes conduz a festa de arromba num repertório cheio de surpresas interessantes. É rock para dançar em casa.
Entre as versões, estão Já fui uma brasa (de Adoniran Barbosa), Pra aquietar (Luiz Melodia), Sou uma criança não entendo nada (Erasmo Carlos), Quando você decidir (de Odair José), Vou festejar (Jorge Aragão), e a quase obscura Americana , de Frank Carlos, um hit em Natal no final dos anos 80; todo mundo já cantou Ela é americana, da América, do Sul... . As composições próprias acompanham a pegada -crooner punk- de Arnaldo Antunes, como em A casa é sua , Essa mulher , Envelhecer (em parceria com o darling indie/nacional Marcelo Jeneci), Meu coração , As melhores coisas , e As árvores (parceria com o bamba Jorge Benjor) e Consumado (uma retomada de composição com os parceiros tribalistas Carlinhos Brown e Marisa Monte). Dos Titãs tem O que e O pulso .
Arnaldo diz em entrevistas que nunca procurou se prender a um gênero musical na hora de compôr. A atual fascinação pelo pop dos anos 60 veio como um desejo de revitalizar as canções da época numa linguagem mais contemporânea. As referências são muitas: surf Music, Jovem Guarda, a primeira fase dos Beatles, trilhas dos filmes de faroeste, o twist, Rita Pavone, programas de auditório e todo um repertório da cultura pop de canções contagiantes e de apelo direto. O músico chegou a declarar que o novo trabalho remete aos seu início com os Titãs. Para mim, esse disco tem ainda um gosto de retorno a algo do início de minha carreira, quando formamos os Titãs, que nos dois primeiros anos de existência tinham o nome de Titãs do Iê Iê .
Arnaldo Antunes iniciou sua carreira com os Titãs. Desligou-se do grupo em 1992, mas continuou compondo com os demais integrantes do grupo; várias dessas parcerias foram incluídas em discos dos Titãs, assim como em seus discos solo. Em 1997, fez participação especial no álbum Acústico MTV, dos Titãs. No ano de 2002 formou, em parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown, o trio Tribalistas, pelo qual lançaram o álbum homônimo - um sucesso estrondoso.
Lançou no final do ano de 2007 o primeiro DVD de sua carreira, o premiado Ao Vivo no Estúdio ; três anos depois, para contrapôr a ideia do disco anterior, e com um estilo totalmente diferente, lança o Ao vivo lá em casa . Entre seus maiores sucessos estão Pulso , Alma , Socorro , Não vou me adaptar , Beija Eu , Infinito particular , Vilarejo , Velha infância e Quem me olha só , entre outros. As influências pós-modernas e concretistas não impedem o músico de fazer música pop grudenta - quando ele assim o deseja.
Tribuna do Norte: 21.01.2011
http://www.arnaldoantunes.com.br/index_new.php