UM PÉ NA MEIA, OUTRO DE FORA.
H á cerca de dez anos ele participa ativamente da cena musical pernambucana. Estreou à frente da banda Songo, como compositor, vocalista e instrumentista, e integra hoje projetos paralelos como a Variant, uma releitura de ska, e Versos, vialejos e quebranguladas, do tocador de realejo Gaspar Andrade. Agora, o compositor, cantor e multiinstrumentista Tiago Andrade, 29 anos, apresenta seu novo trabalho: Zé Cafofinho – um pé na meia, outro de fora (independente), o primeiro disco-solo de sua carreira.
Zé Cafofinho, apelido dado pelo eterno parceiro Rapha B. (baterista da Variant e da Bonsucesso Samba Clube), é o nome artístico adotado por ele desde o ano passado e resume um pouco do espírito do novo CD; do próprio artista. O codinome, na verdade, vem para batizar a nova fase de sua trajetória: mais amadurecida; tanto na criação de suas composições, que permeiam todas as faixas deste disco, quanto na qualidade inventiva de arranjador e instrumentista que tem na rabeca, na viola de arco e no bandolim seus principais recursos de expressão.
São 13 músicas, a maioria com letras e melodias do próprio Zé Cafofinho. O disco dispensa rotulações, e reflete a própria trajetória do músico. Tem um pouquinho de cada fase, sem ser necessariamente nenhuma delas: vai do balanço do samba de gafieira ao “jazz de churrascaria”, do ska ao sambinha de mesa de bar. Tudo isso incrementado pelo som melódico da viola de arco e do bandolim. O resultado dessa composição dá identidade ao disco, permeando tanto letras que remetem à boemia, à malandragem e à cachaça, quanto ao amor, à lembrança e às paisagens do morro da periferia.
O CD traz parcerias com músicos pernambucanos como Bactéria (Mundo Livre e Variant), China (Del Rey), João Carlos (Orquestra Sinfônica do Recife), Hugo Gila (Variant e Academia da Berlinda) e integrantes da Mombojó (Chiquinho e Marcelo Machado), com os quais Zé Cafofinho convive faz tempo. Há ainda participações de nomes como Pupilo (Nação Zumbi), que assina mixagem e bateria de algumas músicas, e Berna Vieira (Bonsucesso Samba Clube e Estúdio Batuka), responsável pela gravação e mixagem de algumas faixas.
Completam o time os músicos Cláudio Negão (sete cordas e baixo), que já tocou com gente como Elza Soares, Seu Jorge e Antônio Carlos Nóbrega e integra o Sexteto Capibaribe, do maestro Marcos César; Felipe Gomes (banjo e cavaco), do Sexteto Capibaribe, que já dividiu o palco com a sambista Tereza Cristina e a pianista Ana Fridman; e Márcio Oliveira (trompete), da Orquestra Popular do Recife, do maestro Ademir Araújo, e do Coral Edgar Morais. O trio foi não só responsável por ajudar a conceber os arranjos desse disco, como integram a banda que acompanha Zé Cafofinho. O grupo conta ainda com Márcio Silva (bateria) e Gustavo Joe (sintetizador).
Márcia Castro (2009 – Pecadinho)
Marcia Castro logo no seu primeiro CD, vem com o apoio de personalidades importantes do cenário nacional. É de Tom Zé a seguinte declaração: “Sou fã, torço por Marcia Castro e espero que, tal Midas, ela dê a tudo que cantar o banho de ouro e eloqüência com que interpretou Pecadinho”. O artista refere-se à música sua e de Tuzé de Abreu, que abre o disco e deu nome ao CD.
Sua carreira já começou coroada. Esse primeiro registro, o CD Pecadinho, foi resultado da conquista do Prêmio Braskem de Cultura e Arte 2006, premiação de maior relevância no cenário independente da música baiana, que incentiva a cultura através do patrocínio de obras inéditas. Embora perceptíveis as influências do jazz e do pop, o CD se guia mesmo pelos gêneros brasileiros passeando pelo samba, frevos e batuques baianos, sem esquecer dos recursos eletrônicos sempre muito bem colocados.
A parceria com o músico Luciano Salvador Bahia deu o tempero necessário para um trabalho autoral e criativo. Depois de abrir o CD com Frevo (Pecadinho), de Tom Zé e Tuzé de Abreu, seus conterrâneos, Marcia logo apresenta canção inédita de Zeca Baleiro, Nega Neguinha, que parece ter sido feita sob encomenda para a cantora, com uma interpretação, acima de tudo, charmosa, sempre bem ancorada por excelentes bases rítmicas. O repertório, que inicialmente seria escolhido na busca de compositores baianos, logo se tornou mais abrangente incluindo nomes como Jorge Mautner, Sérgio Sampaio e Itamar Assumpção.
Mesmo assim, a cantora não se apoio em “sucessos” desses autores e foi buscar a coerência necessária para um trabalho bem conceituado. O CD brinca com a idealização romântica e conduz o amor para o campo da sensualidade. É assim que no repertório aparecem canções como Tua Boca, de Itamar Assumpção, Rainha do Egito, de Jorge Mautner e Em Nome de Deus, de Sérgio Sampaio. Canções que convivem em plena harmonia dentro do trabalho, com as de seus conterrâneos Roque Ferreira, com Barulho, Manuela Rodrigues, com Barraqueira, Medo, de J. Velloso e Queda, de Luciano Salvador Bahia, entre outros.
As participações especiais no CD são um capítulo à parte. Na faixa Barulho, de Roque Ferreira, Zélia Duncan divide os vocais com Marcia em divisões pouco comuns, quase que como um diálogo. Depois em Medo, de J. Velloso, o músico e produtor Arto Lindsay entoa sua guitarra em tom minimalista, para acompanhar a idéia do arranjo. Por fim, Ramiro Musotto esbanja criatividade na programação eletrônica de Cá Tu, Cá Eu, de Jarbas Bittencourt, André Simões e Karina de Almeida.
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Trupe Chá de Boldo (2010 – Bárbaro)
Guitarra, cavaquinho, baixo, saxofone, trompete, clarinete, percussão, bateria e vozes. Esses são os instrumentos que a trupe Chá de Boldo precisa para fazer um som que seus próprios integrantes consideram “meio difícil de definir”. Na realidade, a música da trupe é samba e a forma como eles se organizam lembra a da Orquestra Imperial: muitos músicos e diferentes cantores, para fazer MPB contagiante e de qualidade.
No total, são 12 componentes, que estão juntos há cinco anos. Agora, depois de firmarem o nome na noite paulistana e já terem um bom cartel de canções próprias, eles lançam o primeiro trabalho autoral, o CD “Bárbaro”. Nada no grupo é decidido individualmente. Segundo o baixista Felipe Botelho, eles não gostam de se identificar como uma banda e sim como um bando. “As afinidades de cada um vão aflorando dentro do grupo”, diz ele.
Por incrível que pareça, eles têm poucas desavenças, o que seria natural dentro de um grupo formado por 12 pessoas. A maior dificuldade deles é outra: conseguir reunir todo mundo para ensaiar. “É muito difícil nos reunirmos duas vezes por semana”, conta Felipe. Boa parte da turma já se conhecia antes de formar o Chá de Boldo. “Estudávamos juntos no mesmo colégio e na faculdade”, destaca o baixista.
Numa banda pouco ortodoxa, nada mais natural do que uma capa de CD também fora dos padrões. Para a foto que ilustra o álbum, eles convidaram alguns amigos que aceitaram aparecer nus, pulando um muro. “Como é o nosso primeiro disco, essa é a forma como nos sentimos: pelados. Queremos mostrar que não vamos ficar em cima do muro e vamos invadir a cidade”, explica.
O disco, gravado de forma independente, é distribuído pela Tratore. Os destaques são as canções “Chega de Tristeza”, “Sai Emo”, “Bárbaro” e “Na Tua”. Outra prova da forma coletiva de administrar a banda: nenhum deles faturou R$ 1 sequer, durante um ano. “Nesse período, todo o dinheiro que ganhávamos era poupado para pagar a gravação do CD”, diz. As informações são do
Jornal da Tarde.
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